Cumplicidade silenciosa

Sentadas à sombra exageradamente oblíqua de um sol de fim de tarde, as duas amigas compartilhavam o silêncio. Somente assim, ouvindo nada mais do que o som de sua própria mente, cada uma poderia analisar o seu problema. E torcer para que o problema da outra não fosse tão cruel quanto o seu próprio.
Caladas, as duas estudavam o próximo passo a ser dado, em ambos os caminhos. Qualquer erro e a sua imagem estaria destruída pela imperdoável voz do povo. Sem saber, as duas buscavam a saída de um labirinto construído – nos dois casos – pelos seus próprios desejos e vontades de transgressão.
Não ousavam falar. No imaginário de cada uma, a voz só afastaria as soluções, que por sua vez já eram raras. E assim permaneceram, até que a primeira delas cansou de olhar para dentro de si mesma e não encontrar nenhuma resposta para suas próprias perguntas. Automaticamente, a outra despertou e também se deu conta de que monólogos mentais só trariam ainda mais dúvidas. Levantaram-se , buscando coragem para acreditar que os problemas eram do plano real, mas que não havia um plano traçado para resolvê-los.
Despediram-se com um abraço de incentivo curto e intenso. O objetivo teria sido buscar ajuda nos sábios conselhos femininos da outra, mas o egoísmo – e o desespero – fizeram com que cada uma se desse conta de seus próprios dilemas. E no fim de tudo, o silêncio foi o melhor conselho.
Talvez seja por isso que as amizades femininas funcionem tão bem – ou não funcionem.